Tropecei nesta imagem e recordei-me de um dia em que a minha filha mais velha, com os seus dois anos, riscou o sofá da sala, branco, com esferográfica.
Era domingo e recordo-me que naquele momento estava a fazer o almoço. Ela, supostamente, deveria estar a ver TV, só que não.
A dada altura, quando me dou conta do sucedido, as almofadas brancas tinham um risco em toda a sua extensão. Escusado será dizer que me passei.
Já perto dela, gritei sonoramente o primeiro e último nome dela. Automaticamente ela congelou.
Acerquei-me dela em fúria e dei-lhe duas valentes palmadas na mão. Começou obviamente a chorar, em choque pela minha reação.
Não satisfeita, e visto que tinha o almoço a fazer para onde tinha de voltar, deixei propositadamente a TV ligada a dar os desenhos animados, mas ordenei-lhe que se mantivesse virada de frente, para as almofadas (de costas para a TV), até eu a chamar para almoçar e ai dela que me desafiasse. Assim ficou.
Quando a fui chamar para almoçar, dou com ela exatamente no mesmo sítio onde a tinha deixado uns bons minutos antes, virada para as almofadas, com a cabeça tombada para o lado, a dormir.
Hoje, quando recordo esta cena, sinto-me a pior mãe do mundo.
Não só gritei, como lhe bati e ainda, na minha inconsciência e com requintes de malvadez, achei boa ideia dar-lhe como castigo ficar privada de ver os desenhos animados, virada para a ‘asneira’ que tinha feito.
Ela só tinha 2 anos e naquela altura achei que estava a ser a mãe que deveria ser. Afinal, que mãe seria eu se deixasse passar aquele comportamento em branco?!
As minhas expectativas quanto à capacidade dela para perceber causa e efeito da esferográfica no sofá eram claramente irrealistas. No seu ato de riscar o sofá não vi um bebé a explorar o seu ambiente com o que tinha à mão, mas uma pequena criatura mal-intencionada e desafiadora que me tinha acabado de estragar o sofá.
Hoje, fruto do que aprendi pelo caminho, não me orgulho nada desta história, ainda que saiba que naquele dia fui a mãe que sabia e consegui ser. Naquele dia, perante o meu pior, estava a dar o meu melhor. Não a melhor mãe que ela tem, porque essa está a ser construída dia-a-dia, pelas dores que se revelaram no percurso e com as quais também a minha filha me levou a confrontar, tomando consciência destes momentos em que estive mal, muito mal.
Poderia dizer que foi uma vez sem exemplo, ou das poucas vezes que reagi assim com ela, mas pouco me serviria para atenuar o mal-estar da consciência, sabendo que momentos como aquele podem ficar gravados na memória emocional de uma criança e como isso poderá condicionar a forma como futuramente responderá às mais diversas situações.
Ainda hoje, se perante uma asneira, grito o nome dela ou simplesmente me aproximo mais repentinamente, ela tende instintivamente a fugir ou encolher-se com medo da minha reação. Hoje, sempre que isso acontece, digo-lhe que está tudo bem e que não precisa de ter medo de mim, que estou ali para a ajudar a resolvermos juntas o problema.
A quem interessar conhecer um pouco mais sobre a abordagem da Disciplina Positiva aconselho a verem este vídeo completo da série Aprendemos Juntos.