Parece absurdo, mas temos de parar de achar que precisamos de fazer as nossas crianças sempre felizes. Esse não é o nosso dever, nem enquanto pais nem enquanto sociedade. Primeiramente porque a felicidade não é algo que se ‘seja’ permanentemente. Por muito que nos pareça tentador, nós não somos felizes todo o tempo. Não é possível. É uma utopia.
A felicidade é um estado, não uma condição
A felicidade alcança-se perante um estado de realização, contentamento, bem-estar, paz,… É um estar, não um ser. Mesmo as pessoas que conhecemos que nos parecem ou diriam ser felizes, não são felizes 24 horas por dia, 7 dias por semana. Há momentos em que se instalam outras emoções, como o medo, a frustração, a tristeza, a raiva, a desilusão, o aborrecimento, e tantas outras…
Mais importante que fazermos os nossos filhos felizes, importa ensiná-los a acolher as suas emoções. Todas elas. A respeitar e responder às necessidades que elas espelham. A geri-las, com consciência, para que tenham, não uma vida sempre feliz, mas uma vida plenamente consciente, e com isso (e com a maturidade) potenciar que por eles próprios alcancem os estados de felicidade.
Criar um ambiente positivo, para crianças felizes
Aos pais e à sociedade compete providenciar um ambiente positivo e empático para as crianças crescerem emocionalmente, mesmo com as adversidades que enfrentarão, e desenvolverem as competências necessárias para construírem uma vida plena, assente nos valores que nos são importantes.
O mais surpreendente é que quando educamos com este propósito mais facilmente as nossas crianças estarão aptas a viver melhor e com mais regularidade os tais momentos de felicidade, isto porque as ajudamos a desenvolverem as competências socio-emocionais que permitirão encontrarem em si e nas relações que desenvolvem esse estado.
Mas se insistimos em fazer as nossas crianças felizes a todo o momento, resgatando-as das emoções que não nos parecem desejáveis, estaremos a impossibilitar que treinem a sua capacidade para lidar com as emoções, delas e dos outros, renegando o desenvolvimento da sua inteligência emocional.
Reprimir as emoções pode torná-las infelizes
O mais irónico é que ao tentar reprimir ou anular as emoções desagradáveis da sua experiência de vida, estamos também a entorpecer as melhores emoções que alguém pode viver, na infância e enquanto adulto. E isso sim, é promover uma vida infeliz.
As emoções são para ser vividas. Ensinar a reconhecê-las e geri-las é o maior legado que podemos deixar às nossas crianças e às futuras gerações.