Tempo em frente aos ecrãs: que responsabilidades devem os pais assumir?

Tempo ecrãs

 

Sabemos que o tempo que as crianças passam em frente aos ecrãs já era um desafio antes da pandemia. Agora, em confinamento, com todas as restrições e necessidades de distanciamento, tornou-se um recurso ainda mais usado e valorizado. A questão não é tanto os ecrãs em si, mas sim o uso desregrado que se faz deles.

Em 2015, o Royal Children’s Hospital em Melbourne, Austrália, revelava que o tempo excessivo de ecrã era o “problema de saúde” que mais preocupava os pais. No mesmo ano um estudo da Common Sense Media concluía que os pré-adolescentes e adolescentes passavam entre 6 a 9 horas, em média por dia, entretidos com media de entretenimento.

Será “culpa” só da tecnologia?

Rapidamente se culpou a tecnologia e empresas de media e outras que tais por estes dados. Contudo são os pais que estão na linha da frente no que à educação das crianças e adolescentes diz respeito e ao fixar limites no uso de ecrãs. É por isso legítimo que assumam a sua quota parte de responsabilidade. Para o psicólogo clínico infantil Randy Kulman* é determinante que os pais preparem esta questão, fiquem atentos ao que os seus filhos fazem online, compreendam prós e contas da utilização e do tempo que se passa nos ecrãs e modelem esse uso.

De qualquer forma, este especialista refere também que “o relaxamento dos limites de tempo de ecrã durante a pandemia é uma resposta realista num mundo em que as interações cara a cara precisam ser limitadas”, referindo que até a “tradicionalmente rígida American Academy of Pediatrics alterou recentemente as suas recomendações de tempo de ecrãs durante o COVID-19 e sugere focar na qualidade do tempo de ecrã das crianças com a advertência de que os pais precisam estar mais envolvidos”.

A tecnologia e os ecrãs vieram para ficar. Trazem muitas oportunidades, sendo uma ferramenta importante para comunicarmos e interagirmos no mundo atual, mas quando permitimos que as crianças passem demasiado tempo imersos em ecrãs e no mundo online, elas deixam de fazer outras coisas essenciais para o seu pleno desenvolvimento como brincar, explorar o mundo físico, conectarem-se com a natureza e conviverem, cara a cara, com as pessoas que as rodeiam.

O que podemos fazer então?

Ser um modelo positivo

Para o bem ou para o mal somos a referência para os nossos filhos sobre como estar na vida e interagir com o que nos rodeia. Se estamos preocupados com o tempo que os nossos filhos passam em frente aos ecrãs, precisamos antes de mais olhar para nós e refletir sobre o que poderão eles estão a retirar do nosso exemplo. Com base nessa consciência podemos e devemos assumir a responsabilidade de alterar os nossos próprios comportamentos e incutir novos e mais saudáveis hábitos que promovam um equilíbrio saudável entre o tempo online e o tempo a usufruir de outras esferas da vida, fora do mundo online.

De nada adiantará tentar sensibilizar uma criança ou adolescente pelo tempo que passam online ou em frente aos ecrãs se eles perceberem que lhes exigimos a velha e debotada máxima do “faz o que eu digo, não faças o que eu faço.” Acreditem, eles já não a compram.

Saber o que os nossos filhos fazem online

Para ter uma perceção efetiva do que fazem online não vale a pena exigir que nos mostrem ou sequer espiar. Com o tempo, essas estratégias só nos distanciará dos nossos filhos e ensinar-lhes-á a arranjarem forma de melhor esconder o que fazem. O melhor mesmo é envolver-se nas atividades dos seus filhos. Jogue online com eles ou procure que o ensinem a jogar o que eles jogam. Veja os vídeos que eles vêm. Oiça com eles as músicas que mais gostam.

Vão dizer-me: Mas eu não gosto do que os meus filhos veem ou ouvem e não jogo.

Não precisa de gostar, mas precisa de se importar. E isso é o que basta para que jogue, assista a vídeos ou oiça músicas com eles.

Para saber o que eles fazem, o que os motiva, como pensam, tem mesmo de se envolver. Só assim poderá estar efetivamente presente para os ajudar a construir limites saudáveis.

Procurar que o tempo de ecrã dos nossos filhos seja bem empregue

Como dissemos anteriormente o problema não são os ecrãs mas o uso que se faz deles e do tempo que se passa a navegar. Usar a tecnologia pode ser construtivo quer na aprendizagem académica, no lazer e nos relacionamentos, dependerá sempre do que se consome. É diferente uma adolescente passar horas a fazer scroll no Instagram e a comparar-se com as influencers top ou estar a aprender algo estilo DIY (faça você mesmo – Tradução) de um hobbie de pintura; visitar museus interativos online ou visualizar uma série de vídeos de youtubers infantis a desembrulhar e experimentar dezenas de brinquedos.

 

Links para os estudos:

https://blogs.rch.org.au/news/2015/12/02/australian-child-health-poll-launched/

https://www.commonsensemedia.org/about-us/news/press-releases/landmark-report-us-teens-use-an-average-of-nine-hours-of-media-per-day

Recomendação da Associação Americana de Pediatria:

https://www.phoenixchildrens.org/blog/2020/05/screen-time-rules-during-covid-19

Artigo completo de Randy Kulman Should You Feel Guilty About Your Child’s Screen Time?

https://www.psychologytoday.com/us/blog/screen-play/202011/should-you-feel-guilty-about-your-child-s-screen-time

* Randy Kulman , Ph.D., é psicólogo clínico infantil, pai de 5 filhos e fundador do LearningWorks for Kids.

Nuno Rosa

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