Ignorado? Mas porque é que o meu filho não me ouve?!

ignorado

Tu pedes. » És ignorado…

Repetes. » Silêncio…

Voltas a pedir. » Nada.

Falas mais alto. » Pensas Será que está em casa?

Gritas.

– Bolas! Já vou!

Ah, afinal eles ouvem.

Encontrei a explicação para o porquê das crianças não nos ouvirem neste artigo da Motherly. Segundo a autora as crianças não ouvem devido a uma resposta inconsciente e inata de resistência e oposição que surge quando se sentem controladas ou coagidas. Ao que parece este instinto de “contra-vontade”, cunhado por Otto Rank, um psicanalista austríaco e estudante de Freud, é algo comum a todos os seres humanos e não acontece só com as crianças.

Quando o nosso poder pessoal ignorado e colocado em check, ou seja, quando alguém nos diz o que fazer, pensar ou sentir, frequentemente nessas alturas podemos sentir uma necessidade de resistir. A questão é que nas crianças a sua imaturidade torna-as mais propensas a manifestações de resistência como esta de não escutar.

Para a criança descobrir quem ela é por vezes precisa de colocar limites sobre a visão, expectativas, desejos e vontades dos outros, preservando as suas necessidades e vontades. Quando as vontades dos outros se parecem sobrepor às suas cria-se então a oportunidade perfeita para o instinto de resistência e oposição se manifestar.

Até aqui até me faz sentido. Agora a questão é como é que se pode reverter este instinto de resistência para um instinto de cooperação?

Pois aqui estão algumas dicas:

Foque-se na conexão primeiro.

Antes de avançar com o pedido aposte no relacionamento. Envolva-se no que a criança está a fazer e conquiste a sua atenção em vez de tentar obrigar que ela lhe a dê.

Imaginemos que a criança está a ver televisão:

– Então estás a ver o Acampamento Kikiwaka? Parece divertido.

– Sim. É muito giro.

– Falta quanto tempo para terminar.

– 5 minutos.

– Acho que posso ver contigo estes 5 minutos. E achas que depois podes ajudar-me a pôr a mesa?

– Sim, pode ser.

Evite mandar. Opte por perguntar.

Entre “Vai já arrumar os brinquedos.” e “Podes ir agora arrumar os brinquedos?” qual das duas opções lhe parece ser mais respeitosa?

Por vezes um passo atrás são dois passos em frente.

Se sente que a criança está a resistir ou os seus pedidos estão a ser ignorados e que os seus níveis de frustração estão a aumentar, retire-se por uns momentos para evitar entrar num braço de ferro e escalar os níveis de contrariedade e desconexão que não beneficiam ninguém.

Se necessitar pode dizer algo como:

Ok. Não nos estamos a conseguir entender e eu estou a ficar demasiado aborrecido para insistir neste momento. Vou sair e já voltamos a conversar.

Dê espaço para a criança exercer o seu poder pessoal

Se o seu filho é suficientemente crescido para se responsabilizar por algumas tarefas dê-lhe espaço para tomar ele algumas decisões sobre quando e como fazer as coisas que lhe dizem respeito. Deixe-o propor o plano de ação e em conjunto alinhem de que forma resulta para todas as partes.

Uma criança a quem é dado este poder torna-se mais comprometida em executá-lo.

Ofereça escolhas limitadas

O foco da criança deixa de estar na resistência e passa a estar no poder da escolha que lhe é oferecido.

A criança não quer deixar de ver televisão para saírem de casa. Diga simplesmente:

Queres colocar a gravar o resto do episódio ou preferes desligar daqui a 5 minutos, que é quando acaba o episódio?

Convêm dar escolhas que sejam confortáveis para si. Dizer algo como “Como é, vens ou ficas?”, talvez não seja opção.

Peça desculpa e concentre-se nas soluções

Um bom líder sabe quando é hora de rever o seu próprio comportamento e reconhecer quando se excedeu ou não foi respeitoso. Pedir desculpas abre espaço para novas pontes de conexão e cooperação. Ainda que o seu filho lhe diga: Não mandas em mim. Não é necessário levar como uma ofensa pessoal e reagir às palavras dele. Pode simplesmente dizer:

– Não quero mandar em ti mas é importante para mim que nos possamos entender quanto ao que cada um precisa de fazer para que isto funcione. Admito que há pouco não estive bem quando te falei daquela forma. Desculpas-me?

Achas que agora podemos encontrar uma solução que nos sirva aos dois?