Todos queremos que as nossas crianças cresçam felizes, por isso procuramos facilitar-lhes o caminho, afastando ao máximo as dificuldades e adversidades das suas vidas. Os pais fazem-no com as melhores das intenções e parece-me perfeitamente humano e legítimo. No entanto, a questão que se coloca é:
Até que ponto a nossa ânsia de os poupar das dificuldades os ajuda realmente?
Preparar o caminho para o futuro
Às vezes, ajuda demais resulta em acrescidos problemas no futuro. Por isso precisamos de estar atentos ao nível de ‘facilitação’ que introduzimos no caminho dos nossos filhos.
Até que ponto permitimos que explorem, que se frustrem, que treinem a resistência, resiliência, capacidades de resolução de problemas, foco na solução, a autonomia e a independência, tão desejáveis para que prosperem e ousem na vida?
Ao protegermos demais são estas as competências que privamos que desenvolvam, o que trará com certeza efeitos que se começarão a notar em relações mais dependentes do que seria o desejável, mais medos e maiores ansiedades face aos ‘supostos’ riscos, perigos e dificuldades, maiores índices de stresse, menor capacidade de autocontrolo e autorregulação e perda do sentido de flexibilidade, assim como, menor confiança e motivação.
De acordo com o neuropsicólogo William Stixrud, é importante permitir que as crianças adotem uma abordagem de tentativa e erro, porque as ensina a conhecerem e superarem as suas limitações.
Mesmo ao nível do desenvolvimento do cérebro, uma atitude mais orientadora e menos protetora dos pais tem efeitos positivos, uma vez que quando se permite que as crianças resolvam os seus problemas e tomem decisões, se fortalecem as sinapses neuronais, potenciando o desenvolvimento das áreas do córtex pré-frontal responsáveis pelas capacidades de resolução de problemas.
Os pais devem ser treinadores da auto-estima e auto-confiança
Esta capacidade é igualmente útil na construção de uma auto-estima saudável, visto que a auto-confiança é um dos vértices para que esta se desenvolva. Quantos mais obstáculos as crianças superam, mais se sentem capazes e confiantes e mais motivadas ficarão para continuarem a enfrentar e conquistar novos patamares de desenvolvimento.
Por outro lado, se a atitude dos pais for de constante travão às demandas de autonomia e exploração das crianças, afastando os obstáculos para facilitar o caminho e resolvendo sistematicamente problemas que os filhos poderiam ser incentivados ou treinados a resolver por si próprios, mesmo com as melhores das intenções, potenciam uma menor capacidade de resposta por parte da criança, que tende a ficar mais stressada e ansiosa sempre que algo foge ao seu controlo.
Esta impreparação que gera stress potencia no próprio cérebro uma resposta reativa, com a amígdala a tomar controlo, desconectando a sua integração com a área racional do cérebro. Neste contexto a criança inundada por medos e stress sentir-se-á mais vulnerável. Por norma este é um ciclo vicioso, uma vez que não tendo a criança oportunidade de desenvolver o seu sentido de capacidade de resolução de problemas, sentir-se-á menos confiante e, por seu lado, os pais tenderão a sentir constantemente mais necessidade de a proteger.
A nossa missão
A nossa missão enquanto pais passa, em primeiro lugar, por garantir que as crianças sentem a nosso amor incondicional e a nossa confiança inabalável nas suas capacidades, fazendo-os sentir que podem aventurar-se, uma vez que terão em nós o seu porto seguro ao qual poderão sempre recorrer caso algo corra mal ou para recuperar energias e encorajamento. Este vínculo seguro, mas que não castra, é precisamente a base de que as crianças precisam para se desenvolverem saudáveis e positivas.
Em segundo lugar, passa também por avaliar os contextos de risco de integridade. Em todos os contextos em que se considere não haver risco maior para a integridade da criança, o ideal é estar ao seu lado para ajudá-la, caso necessário, a encontrar as soluções e, na medida do possível, garantir que ela sinta que tem algum controlo na superação daquela dificuldade. Somos a este nível treinadores e orientadores dos nossos filhos.
Passos para ajudar na resolução de problemas
Assim, se a criança se depara com uma adversidade ou problema devemos concentrar-nos, não em facilitar o caminho e resolvê-lo, mas em treinar as suas competências de resolução do problema e a sua autonomia, colocando-lhe as seguintes questões/passos:
- Qual é o meu problema? (reconhecimento)
- Que responsabilidade tive/tenho? (responsabilidade, não culpa)
- Que soluções estão ao meu alcance para resolver/reparar a situação e que consequências terão? (brainstorming e pensamento crítico)
- O que decido fazer? (implementação da solução)
Se não conhecem o conto da Borboleta, que partilhámos há já alguns meses por aqui, talvez faça sentido lerem no seguimento deste texto, para percebermos o como, ao achar que ajudamos, podemos na verdade causar grandes danos àqueles que mais amamos.