A Borboleta Branca que queria ser multicolor

Borboleta Branca

 

A Borboleta Branca foi, ao que tenho de memória, o primeiro livro que me foi oferecido. Li-o vezes sem conta e durante muito tempo foi o meu preferido. Havia algo naquela borboleta branca com que me identificava e creio que nunca deixei verdadeiramente de me identificar com ela, apesar de hoje em dia fazer um trabalho bem mais consciente para lidar com as “insuficiências”, afinal de contas, tão únicas e tão banais.

Curiosamente, há muito tempo que não me lembrava desta história, mas ao preparar uma sessão acompanhada sobre o tema da autoestima, esta borboleta que me cativou na infância regressou à minha memória. Procurei o livro para ver se ainda se vendia, mas não encontrei nada. Encontrei no entanto a história que aproveito para partilhar:

 

A primavera tinha chegado finalmente. A Natureza reencontrara as suas belas cores.

As flores abriam as pétalas para melhor se colorirem. Os animais cantavam e brincavam.

Estavam todos felizes. Todos, à excepção de uma borboleta branca. Só ela se lamentava. Estava desesperada. As suas grandes asas eram completamente brancas. Gostaria de ser uma borboleta multicolor. A Natureza tinha-lhe pregado uma partida.

Então, chorando de tristeza, procurou incansavelmente um meio de se colorir, esfregando-se com o pólen das flores ou rebolando-se na erva molhada.

Uma bela manhã, banhou-se na lama. Uma rã, que habitava perto, não acreditou no que os seus olhos viam: “Ter prazer em se sujar deste modo, é deveras repugnante!”

Mas, ao secar, a lama quebrou-se e transformou-se em pó que voou ao sabor do vento. As asas da nossa borboleta, de novo, imaculadas de brancura. Que decepção!

A borboleta branca pensava que, se comesse cenouras, podia ficar cor-de-laranja. Por isso, foi visitar o seu amigo coelho. Infelizmente, não conseguia trincar tão grande legume. Teve de renunciar ao seu projecto.

Um dia esfregou-se num enorme morango. O sumo fez-lhe muitas manchas vermelhas nas asas. A borboleta branca ficou muito contente. Mas uma joaninha que descansava numa folha disse-lhe intrigada:

– Que te aconteceu? Feriste-te?

A joaninha tinha confundido o sumo vermelho do morango com sangue!

Muito humilhada, a borboleta branca lavou as asas numas gotas de orvalho.

Chegara o Verão. As borboletas resplandeciam ao sol como papagaios multicolores. Para elas, era uma festa. Mas não para a nossa borboleta branca. A sua vergonha era tão grande que, amuada, pousava numa margarida para se esconder. Esta flor era a sua única amiga. Também ela tinha, em vão, utilizado todos os meios para se colorir.

Um dia, aconteceu que Fabrice, um rapazinho, passou no campo com a sua rede de borboletas, para apanhar as mais bonitas de entre elas. A borboleta branca não se assustou, pensando que a sua brancura não cativava aquele pequeno caçador. Contudo, Fabrice parou junto dela, admirado, e perguntou-lhe:

– Porque és toda branca? Que te aconteceu para perderes as tuas cores?

– Pobre de mim! Nunca as tive. Os anjinhos-pintores devem ter-se esquecido de mim.

– Pobre borboleta! É triste o que te aconteceu. Mas… tenho uma ideia… amanhã voltarei para cuidar de ti.

Mal chegou a casa, Fabrice procurou a sua caixa de aguarelas:

– Amanhã, vou pintar as asas daquela pobre borboleta branca.

Na manhã do dia seguinte, partiu às pressas, com a caixa das aguarelas debaixo do braço, para ir ter com a sua amiga que o esperava pousada numa papoila:

– Trouxe as minhas tintas para pintar as tuas asas. Ficarás a ser a mais bonita das borboletas.

Então Fabrice escolheu as cores mais bonitas para pintar as asas da borboleta. No final, tremendo de alegria e de emoção, ela foi mirar-se num charco de água. Virava-se, tornava-se a virar, dava voltas e mais voltas. Não estava a sonhar, as suas asas já não eram brancas!

Todos os animais da vizinhança ficaram pasmados. Não acreditavam no que viam: aquela borboleta era realmente extraordinária.

A borboleta branca estava feliz, causava a admiração de todos. A meio do Verão, os insectos organizaram um concurso de beleza. Pela primeira vez na sua vida, a nossa borboleta pode participar. Foi vivamente aplaudida e o júri admirou as suas cores raras, a tal ponto que lhe concebeu o “pistilo” de ouro. Era um sucesso!

– Numa bela tarde, uma menina, Aurélia, parou junto desta esquisita borboleta de asas diferentes:

– Tenho de a apanhar para a minha colecção! Correu atrás dela e não tardou a prendê-la na sua rede. Mas, de repente, umas grandes nuvens negras deixaram cair uma chuva que apagou as belas cores da borboleta. Aurélia, espantada e desiludida, soltou-a.

Tremendo de medo, a borboleta esvoaçou e, depois, rodopiou de alegria: a sua brancura e a chuva acabaram-lhe de lhe salvar a vida. Muito alegre, a borboleta branca foi ter com a margarida, que continuava triste por ser branca:

– Não sabes a sorte que tens por seres branca. Se fosses colorida, há muito que te teriam colhida, minha amiga.

– Tens razão, não tinha pensado nisso – admitiu a margarida, corando de prazer.

– E olha para a lua!… Também ela é branca e é muito feliz assim! A nossa borboleta branca e a margarida desataram a rir. O branco era tão bonito!…

 

Neste momento, passados tantos anos, já não sei o que é feito deste livro, mas fiquei feliz por conseguir reencontrar a história tal e qual a conhecia.

Aproveitem e leiam-na também às vossas crianças. Perguntem-lhes se compreendem a tristeza da borboleta? Se também se sentem ou já se sentiram assim? Será que não acham que esta borboleta não era, exactamente por ser branca, especial e única? Se ser diferente não é importante?… Por aqui vou aproveitar para fazer o mesmo com as minhas meninas. 😍