Ativismo parental: a mudança está a acontecer

Parentalidade Consciente

 

Parentalidade consciente é ativismo e o ativismo é difícil.

Os ativistas quebram ciclos. Quebrar ciclos requer mudanças profundas e isso leva tempo, o que requer muita paciência.

Ser ativista pode ser profundamente doloroso. É então necessária a capacidade de suportar grandes dores.

É também, muitas vezes, cansativo. Por isso precisamos ser bons na arte de nos amarmos e cuidarmos a nós mesmos.

Parentalidade consciente é ativismo. Se procuras ser um pai ou mãe consciente acredita que estás a mudar o mundo.

Adaptação de @emocoesaflordamente do original de Vivek Patel

 

Quando os tempos eram outros

Na minha infância não vivi estes valores de um “ativismo parental”. Os tempos eram outros. Senti os cuidados, cresci entre valores que ainda hoje me são caros e me fazem sentido, mas muitas vezes (demasiadas), foram interiorizados, não com base num sentimento de compreensão, de empatia e amor, mas com base no medo, na vergonha e dor, que se achava necessária para aprender como a vida era e como nela devíamos seguir.

Não me tornei revoltada nem rebelde, mas sinto que perdi algo de mim nesses anos que se querem tão cheios de cor, a alegria e magia que caracterizam a meninice. Vi-me na obrigação de ser adulta antes de tempo para me sentir aceite e amada, pertencente num espaço onde nunca deveria duvidar do meu merecimento: na minha família, na minha casa.

Hoje, adulta, mãe e procurando ser o mais consciente possível no meu papel, revejo a minha história, aceito o meu passado e a infância que tive, procurando encontrar sentido em todos esses anos, em todos os sentimentos intensos e, tantas vezes, reprimidos envolvidos.

Agora está na hora de quebrar ciclos

Hoje, procuro quebrar ciclos que já não me servem. Que nunca me serviram, ainda que compreenda que para me educarem os meus pais fizeram sem dúvida o melhor que puderam e sabiam, com os recursos que tinham, e que na verdade, esse estilo, fez (e ainda faz) parte de toda uma cultura social.

Hoje, felizmente, quando se quer, os recursos podem ser outros e por isso procuro que a geração das minhas filhas não cresça com uma nuvem de medo, vergonha, de não merecimento e não reconhecimento a pairar sobre as suas cabeças e a entorpecer os seus passos, que se querem confiantes e corajosos.

Neste novo ciclo sinto-me com elas e por elas a curar algumas feridas antigas, às quais vezes sem conta foi aplicado um penso rápido. Escolhi tirar esse penso e, camada sob camada, limpar esta ferida exposta, infectada de anos a anos a ocultar o que era “feio”. Dói. Arde. Tal como acontece quando caímos e esfolamos o joelho e temos de desinfectar e cuidar para curar.

É cansativo quando assumimos e resolvemos partilhar este caminho. Surgem questões, dentro e fora de nós. Surgem egos, defesas e resistências, julgamentos e comentários que nada acrescentam.

“Isto agora é moda!”

“São só teorias.”

“Com os meus miúdos isso não funciona.”

“Querem ser os melhores amigos dos filhos. Vão longe, vão!”

“Por isso é que os miúdos são como são e temos a sociedade que temos!”

“Agora há receitas para tudo, até para ser pai ou mãe.”

Ativismo Parental

Em determinadas alturas é cansativo desconstruir estas interpretações, aprofundar o que está incutido nelas e desmistificar os olhares enviesados que continuamos a cultivar sobre abordagens de parentalidade positiva e consciente. Ainda assim, entre todos os julgamentos e comentários, os que mais me custam são os que emergem de mim ou me fazem retornar a esse lugar de insuficiência e carência. Tantas vezes preciso de respirar fundo, acolher o que sinto, cuidar das minhas feridas, olhar a fundo para as minhas necessidades, clarificar as minhas intenções, para me sentir novamente revigorada e pacificada com as minhas escolhas.

Se queres mudar o mundo começa por amar a tua família, dizia a Madre Teresa de Calcutá.

É aqui que a magia acontece nas vidas de cada um de nós, de dentro para fora. É aqui que os desafios nos fazem submergir ao nosso melhor e ao nosso pior. A partir daqui ou te conformas, porque achas que a vida é mesmo assim, nem vale a pena questionar, ou compreendes que nesta submersão no ativismo parental está a oportunidade para te reconstruires e transformares as tuas relações e, talvez com isso, inspirares a mudança que queres ver no mundo. De dentro para fora. De casa para a comunidade.